Seis meses após a enchente que mudou a vida dos moradores dos Vales do Taquari e do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, a região ainda luta para se recuperar. Em maio, o nível do Rio Taquari subiu a níveis históricos, deixando cidades submersas, comunidades isoladas e marcando profundamente a população. O desastre causou 183 mortes, e 27 pessoas ainda estão desaparecidas. As cicatrizes permanecem: ruas, casas e negócios seguem com as marcas da tragédia.
Natasha Becker, moradora de Cruzeiro do Sul, viveu momentos de desespero no dia da enchente. Ela, o marido e o filho de quatro meses, Anthony, ficaram presos no telhado da casa por três dias até serem resgatados de helicóptero pelo Exército. “Quando a gente ouviu que o helicóptero estava pousando, a primeira coisa que fiz foi levantar o Anthony, mostrando que a prioridade era salvar ele,” conta Natasha. A família perdeu tudo, mas há um mês compraram uma nova casa, agora em um local alto, onde tentam recomeçar. “Foi um renascimento. A gente tem muito mais a agradecer do que a lamentar,” diz a mãe, emocionada.
Em outras áreas, as cenas de destruição se repetiram. Na Linha Borges de Medeiros, em Roca Sales, o morador João Hespr, sua esposa e filhos ficaram cinco dias ilhados após um deslizamento bloquear a estrada. Para buscar comida, João teve que caminhar oito horas em meio ao barro e escombros, sem sapatos, cortando as mãos pelo caminho. "O maior problema foi a falta de alimentação, mas consegui sair e buscar ajuda," relembra. Hoje, a estrada foi reaberta, e a comunidade, finalmente, voltou a ter acesso regular.
A recuperação econômica também é um desafio. Em Sinimbu, 100% dos comércios foram atingidos pela enchente, incluindo o negócio de Talita Wagner, que teve de juntar suas duas lojas em uma única sala após perder quase todo o estoque. “Foi um longo período de limpeza e readaptação, mas conseguimos superar,” diz Talita, aliviada ao ver seu comércio funcionando novamente.
Na agricultura, o cenário não foi diferente. Sérgio Kessler, produtor de grãos em Santa Cruz do Sul, perdeu toda a safra de soja que estava prestes a ser colhida. Para se adaptar às novas condições do solo, ele decidiu cultivar arroz. "É a nossa vida, vivemos disso. Ver uma nova safra germinando agora dá um ânimo," afirma, com esperança de um novo ciclo produtivo.
Aos poucos, o Vale do Taquari e o Vale do Rio Pardo se reerguem, movidos pela garra de quem ficou e pela solidariedade de quem ajudou a reconstruir. Com informações da G1RS
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